Muitos pensaram que entraram em verdadeiro colapso mental ficando mais de uma semana em casa, bem, há quem possa estar realmente mais estresseado e irritado com essa necessidade, mas eu gostaria de abordar de outro aspecto da necessidade de ficar em casa que é a falta de liberdade.
Afinal, somos verdadeiramente livres? Quem de nós pode dizer que é livre?
Quem sabe, constatar que a liberdade, no fim das contas, é uma ilusão pode trazer certo receio, ainda que esse exercício exige da nossa parte certa dose de tempo para refletir sobre nossa condição real.
Muito antigomente acreditava-se que uma sociedade só poderia de fato ser coerente e edificada com uma base religiosa de crenças morais onde todos tinham uma unidade de pensamento e comportamento. Mas a revolução causada por Lutero e desfragmentação da igreja Cristã, aliada, logo mais a implacável guerra entre católicos e protestantes nos séculos 16 e 17, produziram uma reação adversa a religião entre as elites europeias na época.
Alguns bons teóricos como Hugro Grotis e John Lock então, se viram na necessidade de conceber uma nova ordem política, baseada não na lei de Deus, mas nos governados, no que para o povo era consenso. A partir daquele momento cada pessoa deveria viver conforme apraz, e o governo deveria ser o garantidor, fornecendo a cada pessoa a liberdade para viver de modo que satisfaça os próprios interesses.
Hoje é bem provável que seja um consenso entre crentes e descrentes que a liberdade é o valor maior em nossa cultura, a narrativa padrão entre todos os ocidentais.
Desta forma de pensar surgem aquelas que pensam que o Cristianismo seria como o arqui-inimigo da liberdade, mas será mesmo?
O conceito de liberdade moderna é esse, pensando que você pode fazer o que quer, que é livre, sem restrição nas escolhas.
Embora pareça muito lindo e uma ideia atraente, pense se de fato a liberdade funciona assim.
Pense se você tinha um filho(a) e adorasse beija-lo, educá-lo e ensinar a ele as coisas que aprendeu, ao passo que você também curte comer de tudo, adora doces e churrasco entre tantas outras coisas. Até que em seu check-up anual seu médico diz: " olha, sugiro que o senhor faça sérias restrições alimentares, caso contrário terá um infarto".
Se a definição moderna de liberdade é a capacidade de fazer tudo o que quer, como a liberdade acontece em casos como este?
Sem dúvida esse pai não quer ficar na cama e morrer, perdendo muitos anos ao lado de seu filho(a).
Tim Keller tem uma frase que diz: "No nível da vida real existe diversas liberdades, e ninguém consegue tê-las todas".
Hoje quando alguém olha meus desenhos pode até concluir que são realmente bons, mas desconhece o quanto da minha liberdade foi cortado por mim para que eu passasse horas com caneta e papel em mãos treinando para fazer um bom trabalho.
Da mesma forma, não consegue um diploma na faculdade se não restringir as saídas e as festas com os amigos em algum momento.
Portanto, a ideia de liberdade que a cultura nos impõe, no fim, só na escraviza. Tim Keller nos fala que "a liberdade não é ausência de restrições, mas a escolha das restrições certas e das liberdades certas a se perder".
Somos seres relacionais e portando até mesmo quem estufe o peito para dizer que faz o que não poderia se quer tirar a sua vida, sem entristecer pra sempre a vida das pessoas que te amam e estão ao seu redor. Não há como escapar do fato de que em algum grau pertencemos uns aos outros.
"Homem nenhum é uma ilha" John Donne
Pode haver aqueles que dizem "eu sou livre pra fazer o que quer, não fazer mal a ninguém", mas viver desta forma na direciona para uma vida sem juízo de valor sobre qualquer coisa. Se alguém tem como moral absoluta a liberdade é bem provável que para essas pessoa a intolerância e o preconceito seja de fato os únicos pecados que devem ser castigados, pois para quem parte do princípio de que devemos viver sem fazer mal a ninguém, esta pessoa vive o "princípio do dano".
A questão então passa a ser, como alguém pode saber o que fere ou deixa de ferir uma pessoa?
Estava falando com um amigo via chamada de vídeo e ele se despedir disse que iria lá, bater uma e fumar um baseado. Ora, não sei até que ponto aquilo me foi dito apenas para chocar ou de fato ele tem ido fazer isso, mas eu acredito na segunda opção. O ponto aqui é a pornografia, alguém que se diz livre poderia consumir pornografia no privado sem que ninguém saiba? Claro que sim, uma mentalidade de liberdade que parte do "princípio do dano" vê nesse o fim em si mesmo, mas não consegue ver o quanto consumir molda a sua mentalidade a ponto de prejudicar o seu relacionamento homem/mulher e que isso afeta a sociedade em que vive.
Todos os dias fizeram juízos de valor sobre as mais diversas coisas e relativizamos tudo, sejam grupos de pessoas, pessoas ou coisas. Reputações são tolhidas e a internet se tornou uma arena pública de achincalhamento social. Portanto o que mudou desde muito antes do mundo como o conhecemos?
Estamos aqui neste mundo lutando para impor nossas crenças morais sobre o que constitui dano moral sobre as outras pessoas.
Você acha ainda que não precisa de restrições morais sejam elas que forem, para regulares nossas atos para viver em sociedade?
Se nos apaixonamos nossa liberdade é imediatamente reduzida, pois não podemos simplesmente passar uma final de semana sozinhos sem dizer o que faremos ou deixaremos de fazer, os relacionamentos são assim, exigem cuidado um do outro, compaixão, carinho e não há como ter essas coisas sem se importar o mínimo que seja com alguém.
Por isso, namoridos, amigos, parentes, cônjuge são cruciais para atingirmos nossos objetivos, sejam eles que são for em nossa vida. Se alguém que nos importamos adoece, nossa liberdade é instantaneamente perdida, pois ter que desprender tempo e energia para cuidar e tratar da pessoa amada.
Não há como viver em amor com alguém que diga "primeiro eu, depois, se der, você" desta forma a balança do amor estaria totalmente desiquilibrada para um lado, bem diferente de dizer "primeiro você e eu me adapto", o amor exige sacrifícios e quando os dois assim pensam o relacionamento é próspero e rico em vários sentidos.
Desta forma você jamais poderia dizer que é livre, pois sempre alguém vai ser restringindo as suas opções.
Em tempos de restrições que nos foram impostas, estamos tentando lidar com a melhor forma possível com as condições sociais que o CoronaVírus nos obriga. Pode ser que alguém reclame do fato de ser obrigado a estar em casa, dizendo que isso é uma forma de prisão, mas esse reclama da mesma coisa que alguém que é obrigado a sair de casa para trabalhar, quem é mais ou menos livre?
Vírus a parte, cabe a reflexão sobre essa ideia falsa de liberdade que carregamos até aqui.
A liberdade não deve ser pretexto para egoísmo, agora necessitamos estar em casa para cooperar a fim de que o vírus não se alastre, sendo também sensível a quem necessariamente precisa trabalhar fora de casa por exercer funções primordiais, sejam entregadores, mantenedores de internet, agricultores, produtores de alimentos e suprimentos, jornalistas, líderes políticos etc.
Então, quem é verdadeiramente livre? Me parece que no fim, todos somos em alguma instância, escravos de nós mesmos. A questão está em pelo que você vive, qual a razão da sua vida?
Já vimos que não somos livres, pois não há lado para andar sem que não venhamos a esbarrar em nos limites alheios a nós. Nossa busca por satisfação nos aprisiona, nos direciona para nós mesmos, e isso impacta as pessoas a nossa volta. Viver para algo limitado, efêmero e passageiro limita nossas escolhas, restringe nossa liberdade, quando olhamos profundamente em nosso coração vemos o fracasso de encontrar satisfação em coisas terrenas. Neste sentido, ficar em casa ou sair de casa mesmo que não seja uma opção, parece estar a margem daquilo que amamos verdadeiramente.
Me arriscaria a dizer que neste momento quem mais sofre dentro da prisão (seja ela qual for) é aquele que vê seu amor último sendo exposto as limitações impostas por um vírus.
Possuo a convicção de que fomos feitos para conhecer a Deus, no exemplo do amor entre um casal, a analogia pode ser parecida, pois quando nos apaixonamos queremos conhecer a razão do nosso amor.
Em tempos de incertezas, dúvidas e muita angústia, pensar sobre a razão maior do nosso amor nos liberta diante de um cenário que é muitas vezes desanimador.
Qual a razão final do seu amor? Pelo que você vive? Se disser, seus filhos, sua família, seu trabalho, seus amigos, seus bens, sua conta bancária, qualquer um desses pode ser apenas o nome da bola de ferro presa ao seu pé. Não que eles não sejam importantes, mas não podem jamais tomar o lugar de Deus como amor maior em nossos corações. A pandemia tem exposto e nos trazido anseios, medos e temores do que nosso amor maior pode sofrer, mas o que resta destes sentimentos quando nosso amor maior está acima de tudo e não pode ser atingido?
Que tal o exercício de começar a crer de fato em Deus?
O Cristianismo é a única religião que afirma que Deus abriu mão da sua liberdade a fim de que pudéssemos experimentar a liberdade em sua plenitude. Livres do mal e da morte, por confiar em um Deus que sacrificou o seu próprio filho para que por ele pudéssemos ser livres das amarras terrenas que se limitam ao Coronavírus e se quer resistem ao tempo.
Foi Jesus quem disse "vinde a mim, todos vos que estais cansados e sobrecarregados, e eu vos aliviarei. Tomai sobre vós o meu jugo e aprendei de mim, pois sou manso e humilde de coração; e achareis descanso para a vossa alma. Porque o meu jugo é suave, e o meu fardo é leve" Mateus 11.28-30
Parafraseando, ele diz, cara, vem fazer apenas as coisas que criei para fazer, por isso meu jugo é suave. Tu terá o fardo de mim seguir, mas saiba que eu já paguei o preço por isso, e quando tu falhares, já tensões o meu perdão. Tirei de ti o fardo que outras pessoas te colocaram e o fardo de ter que fazer por merecer a salvação por teu próprio esforço. Te liga, o fardo das culpas por erros e fracassos do passado foram removidos da tua vida. Não precisa mais se provar digno de amor, esse fardo está comigo e não mais contigo. Então agora eu sou teu único Senhor e mestre, e apenas eu poderei te plenamente satisfazermente. Se tu falhares, calma, eu poderei perdoá-lo meu filho.
Entendendo isso, sabemos que nossa limitação é suprema e infinitamente libertadora, pois já não há mais o que pode abalar nossa confiança e alegria, pois somos verdadeiramente livres em Cristo. Isso significa que nosso amor não tem finalidade terrena e, portanto, não está limitado às dificuldades da vida, seja vírus ou quaisquer outras circunstâncias.
Por nosso amor maior estar em Deus é que podemos relacionar com todas as coisas mais demais dando a elas o seu valor, seja a família como família, seja o trabalho, como trabalho, amigos como amigos e assim por diante.
Aqui cabe mais um trecho de Tim Keller em seu livro Deus na era secular: "Agostinho (de Hipona) não via nossos problemas como algo que se originava apenas da falta de amor. Também observou que as afeições do coração tem sua devida ordem, e que com frequência amamos mais as coisas menos importantes e vice-versa. Portanto, a infelicidade e a desordem em nossa vida são causadas pela desordem de nossas afeições. Alguém justo e bom "é também alguém que tem sua afeição ordenada [de forma correta], de modo que não ama o que é errado amar e nem deixa de amar o que deve ser amado bem ama demais o que deve ser menos amado (nem ama pouco o que deve ser mais amado)". Como isso funciona? Não há nada errado em amar seu trabalho, mas se você amar mais do que sua família, então suas afeições estão desordenadas e você pode arruinar a família própria. Ou se amar ganhar dinheiro mais do que ama a justiça, então explorará seus empregados, novamente porque suas afeições estão desordenadas.
Que Deus possa abençoar você em tempos de angústia e seu coração pode se encher de esperança.
"Se, pois, o Filho vos libertar, verdadeiramente sereis livres" (Jo 8.36)
Augusto Marques
Em um reflexo sobre o capítulo Cinco do livro de Timothy Keller — Deus na Era Secular: Como céticos podem encontrar sentido no Cristianismo.
Alguém até mim pergunta porque esses quadros eram tão importantes?
A pintura é uma das expressões artísticas mais antigas de que se tem registro. É representado e vivenciada por homens que pintavam em cavernas.
Uma representação artística pode ser vista por várias civilizações ao redor do mundo, como a arte egípcia, arte mesopotâmica e arte ibérica. Seus artistas e artesãos produziam obras que abordavam temas como religioso culto, contexto social e político.
A arte tem sua importância como forma de interpretação dos sentimentos, das ideias, das ações e manifestações do homem no mundo, como um retrato do que se vive na época e do que estava sendo pensado naquele momento.
Uma mente secularizada como a nossa e que dispõe de uma enxurrada de opções de mídias, pode não conseguir dar a devida importância para a pintura de grandes artistas como Van Gogh, Picasso, Cavalcanti, Portinari entre tantos outros, pois aprendemos que essas caras são importantes, mas não sabe bem ao certo o porquê.
Confesso que me emocionei ao me deparar com um quadro do Cândido Portinari que só conhecido das representações representativas de nós livros do MEC.
Hoje graças como facilidades tecnológicas, nosso consumo por imagem é mais rápido do que a captura da câmera de um celular. Nos esforçamos para tirar a melhor foto, com o melhor ângulo e elas vão parar na linha do tempo de alguém que desprende 1 segundo, tempo suficiente para um like. Nós nos enganamos dizendo que amamos a imagem, amamos fotos, mas parece que estar mais interessados em parecermos artistas do que realmente sermos.
Pense comigo que na época destes grandes pintores existiam poucas formas de registros, bons artistas eram escassos e alguns deles como Van Gogh vendiam quadros que hoje no dia valem milhões por um prato de comida.
Elas são importantes porque ao contrário dos artistas contemporâneos não desistiram por não estarem fazendo sucesso, artista era o que eles eram.
Não eram como nós artistas modernos que hoje em dia buscamos no Google e as mais belas referências visuais, em milésimos de segundo estão a nossa frente, eles olhavam para trás e tinham algumas boas referências, mas a grande sacada estava em olhar para o mundo, olhando para sua volta e perceber os detalhes e se deixar levar pelo talento de poder fazer um belo e demorado registro , como se o tempo simplesmente parasse e cada detalhe poderia vir a tona através da percepção do artista, seus pincéis e sua paleta de núcleos.
Arte meus amigos, maravilhosa arte! 🥰
Augusto Marques
(contém spoilers)
Laura Dern ganhou o Oscar de melhor atriz coadjuvante pelo filme História de um casamento. Confesso que gostei do filme, mas não curtiu muito a história, minha torcida era para que o casal junto na final. Assistimos eu e minha esposa e eu acho que ela teve a mesma percepção que eu.
O filme me prendeu eu, pois tem muitas qualidades, além das atuações excepcionais. A história triste de separação do casal do casal expõe a falta de sensibilidade dos advogados, que a minha ver é uma realidade também em terras tupiniquins.
Bem, mas a motivação para escrever este texto está em uma das falas da personagem Nora Fanshaw (interpretada por Laura Dern) advogada da Nicole Barber(Scarlett Johansson) que em meio a uma reunião em função do processo judicial de separação diz:
"Não se aceitam mães que encham a cara, que gritam e chamam o filho de bundão. Eu entendo, também faço. Aceitamos um pai imperfeito. Vamos admitir: O conceito de bom pai foi inventado há uns 30 anos. Antes disso, esperava-se que fossem caladões, ausentes, irresponsáveis e egoístas. A gente diz que quer que eles mudem, mas bem lá no fundo, a gente os aceitas, nos os amamos por esses defeitos, mas as pessoas não aceitam esses defeitos em uma mãe, nem estruturalmente nem espiritualmente. Porque a base dessa nossa baboseira judaico-cristã é Maria, mãe de Jesus e ela e perfeita. Uma virgem que dá luz e apoia o filho incondicionalmente e o abraça quando ele morre. E o pai nem dá como caras. Ele mesmo comeu a mãe. Deus está no céu, Deus é o pai e nem Deus apareceu. Então você precisa ser perfeito. Charlie pode ser um, não importa. Você sempre será julgada um nível acima. E é muita, mas é assim que a banda toca
Na foto a atriz Laura Dern ganhadora do Oscar de melhor atriz coadjuvante. Filme história de um casamento.
O texto foi escrito por Noah Baumbach que, pelo que li, tem se tornado conhecido justamente por sua abordagem "realista" de contar histórias que permeiam o cotidiano novaiorquino.
Claro, aqui cabe o exercício de tentar imaginar o texto que citai, na perspectiva de uma advogada de meia idade, classe média alta, solteira, esclarecida e que vive no contexto sociocultural de uma cidade secularizada como Los Angeles. Por isso, meu convite é para que nos próximos parágrafos analisemos juntos esta fala.
"Não se aceitam mães que encham a cara, que gritam e chamam o filho de bundão."
Eu não preciso ir para Los Angeles para perceber que a primeira frase do texto já apresentava equívocos, pois tinha o exemplo em casa quando pequeno da minha mãe que não mídia para retardo e educar seus filhos, e até hoje ela curte tomar sua cerveja, claro que os exageros, mas nosso amor por ela é sem medidas, contudo , em uma sociedade sentimentalista, onde o país trata seus filhos como verdadeiros reis e rainhas essa primeira frase parece estar soando perfeito aos ouvidos de famílias pós-modernas. Sei do problema machista por trás desta fala, mas se você perguntar para qualquer homem qual a pessoa mais importante de sua vida, sendo ele machista ou não, certamente ele diga que é uma mulher, provavelmente sua esposa, namorada ou definitivamente a sua mãe.
"Eu entendo, também faço. Aceitamos um pai imperfeito. Vamos admitir: O conceito de bom pai foi inventado há uns 30 anos. Antes disso, esperava-se que fossem caladões, ausentes, irresponsáveis e egoístas."
Talvez um dos maiores benefícios do progressismo foi a "gurmertização" dos pais, antigamente os pais se encaixavam em grande parte desses rótulos, mas também possuíam tantas outras classificações que não foram. Pais ausentes em sua maioria tinham suas justificativas em função da responsabilidade com suas famílias, por que eles eram totalmente inclinados a suprir suas necessidades físicas e materiais, sem deixar que lhes faltasse nada. Ao passo que hoje continua vendo pais que da mesma forma são ausentes (salvo exceções), mas parecem ter piorado, pois agora também são desprovidos de responsabilidades para com suas esposas, namoradas e filhos, muito próximo do que Darrin Patrick chama de "Homenino", um fenômeno recente de homens frouxos, marmanjos que vivem jogando, videogame pornografia assistindo e se masturbando.
Mas cabe não apenas olhar 30 anos atrás, mas bem antes disso, quanto pais assumiam para si uma responsabilidade irrevogável de defender e proteger a sua família com unhas e dentes.
No artigo de André Lisboa no Medium (1), ele cita o livro "Luz sobre a idade média" de Régine Pernoud que fala sobre a necessidade de entender a família dentro do contexto da idade média para que se possa compreender este período da história, ele retoma como 3 substâncias que compõe uma família (pai, mãe e filho(a)) em uma época que a ex-igrejaercia influência forte sobre a sociedade :
O pai — O administrador da família — responsável pela transmissão de bens e afeição — era o pai. A sua autoridade não está firme nele em si, na chefia determinada pelo direito romano. Ele muito mais cumpre um dever — missão — do que exerce um direito. Sua função é proteger mulheres, crianças e servos e assegurar a continuidade do patrimônio. Todavia, o pai, como indivíduo, não é o proprietário, mas a família.
A mulher — Pernoud ressalta a posição feminina como colaboradora à administrar a casa e a educação dos filhos. Quando o homem se ausenta, é a mulher que passa a gestão dos bens sem necessidade de autorização. Se uma mulher morrer sem filhos, seus bens voltam para sua família de origem.
Os filhos — Tendo o pai como guardião, protetor e mestre, o filho submete-se à autoridade paterna até a maioridade (14, pebleus; 20, nobres). Após a maioridade, o jovem continua a ser protegido pela família e passa o direito de fundar o seu próprio núcleo familiar. Nada entrava a sua liberdade, pelo contrário torna-se senhor de si, diferente do que ocorria em Roma. Muitos deixam a casa para servir o reino.
Boa parte deste modelo resiste até hoje, ainda que em pequena escala, e tem sido feito pela atuação humanista de uma sociedade que está em rebelião contra Deus, agora, a humanidade quer estar no centro e assumir como rédeas de sua própria história, o problema (ao meu ver) é que não foi desta forma que chegamos até aqui, então porque que andar na falsa sensação de que sabe exatamente que devemos que fazer com o mundo? Formas hibridas de família surgem a cada dia e o casamento contemporâneo, em muitos lugares, já não é mais como era antigamente.
Há pouco tempo li uma matéria de alguém que se casou consigo mesmo, isso é o cúmulo do egocentrismo.
Estou certo que alguns movimentos sociais como feminismo em sua raiz tem respaldo até mesmo na bíblia, repare, não estou falando de feminismo da segunda onda ou da terceira onda que são distorções do que é o feminismo em sua essência. entender cabe que antes mesmo das mulheres gritarem por igualdade o apostolo Paulo já dizia em Gálatas 3.28 "Não há judeu nem grego, escravo ou livre, homem ou mulher; porque todos vós sois um em Cristo Jesus". Vamos entender essa passagem e seu contexto na próxima parte do diálogo proferido por Laura Dern no filme.
"A gente diz que quer que eles mudem, mas bem lá no fundo, a gente os aceitas, nos os amamos por esses defeitos, mas as pessoas não aceitam esses defeitos em uma mãe, nem estruturalmente nem espiritualmente. Porque a base dessa nossa baboseira judaico-cristã é Maria, mãe de Jesus e ela e perfeita. Uma virgem que dá luz e apoia o filho incondicionalmente e o abraça quando ele morre. E o pai nem dá como caras. Ele mesmo comeu a mãe. Deus está no céu, Deus é o pai e nem Deus apareceu. Então você precisa ser perfeito. Charlie pode ser um, não importa. Você sempre será julgada um nível acima. E é muita, mas é assim que a banda toca
Aqui está a parte que mais quero me debruçar compreender para o que de fato está por trás da fala deste personagem.
Não é meu pretensão resolver este problema, até mesmo porque sei das minhas limitações e compre que este texto alcançará (na melhor das hipóteses) 5 ou 6 pessoas que viram o filme e se interessaram por seu conteúdo.
Estou certo que a influência no modelo familiar convencional é judaico-cristão, mas não pode olhar para parte dos valores e da mecânica incutidos na família e ignorar o restante, pois parecerá sempre impossível, incongruente e capenga.
O que não é dito pelo personagem é que todos nós somos pecadores, neste sentido, todos nós postos em uma condição indigna diante de Deus, isso significa que ninguém é santo ou merecedor de algo alguma, mas Deus pela fé nos torna santificados perante Ele só pelo fato de crermos em Jesus Cristo (em suma).
Dentro da ideia de que virgindade é sinônimo de santidade cabe lembrar que até mesmo Maria, dita como santa (como se tivesse sido virgem a vida inteira), só tinha concebido a Jesus Cristo (o que é uma inverdade), não foi virgem por toda a sua vida, pois Jesus possuía irmãos, fato bíblico que José efetivamente transou com Maria, Jesus possuía irmãos (Marcos 6.3) e era tratado como primogênito (primeiro filho) conforme Lucas 2.7 e não como unigênito (filho único), e qual o problema disso? Ora, nenhum! Quando dizemos que Deus criou todas as coisas, também dizemos que ele criou o sexo e não é preciso ser nenhum teólogo para saber que isso é bom.
O que a fala também não diz, por sua falta de compreensão bíblica, é que aquele que Maria deu a luz não era um homem, mas sim o próprio Deus e isso muda tudo. Maria não estava apenas sofrendo por um filho que seria morto emjustamente, mas por um Deus que veio na carne e habitou entre nós, assumindo a forma de homem e servo, Jesus serviu a todos e foi o único homem perfeito a pisar na terra, a sua missão incompreendida passa por assumir para si os pecados de toda a humanidade e morrer humanidade sacrific-se por todos. O ponto aqui é que Jesus se não fosse santo como homem, sem pecado algum, talvez após a sua morte alguns diriam que a sua obra foi impressionante, mas ele também tinha lá suas falhas, nos o tornaríamos indigno facilmente ao recordarmos de algum defeito que ele poderia ter tido. A santidade de Jesus muda tudo, pois não há do que pode ser acusado, a sua perfeição e santidade nos expõem e nos confronta, pois a morte Dele foi por mim e por ti é justamente é pela fé nele que agora como pecadores imundos, podemos chegar novamente diante de um Deus que é santo, restabelecendo assim, nosso comunhão.
Ora, esse fundo teológico é de suma importância para compreender a distorção na fala do personagem, que obviamente dentro do contexto dela não tem qualquer responsabilidade com a bíblia exegese que é nada mais, nada menos, que a correta interpretação da bíblia.
Portanto, Deus não estava no céu como também estava diante de Maria o tempo todo.
Segundo William Hendriksen no seu comentário do livro de Gálatas (2) o texto que cita anteriormente (Gálatas 3.28) "O que Paulo está dizendo, pois, é que todas essas distinções — sejam raciais ou religiosas ("nem judeu, nem grego"), sociais ("nem escravo, nem livre"), ou sexuais ("nem homem, nem mulher") — devem ser completamente e sempre para erradicadas, uma vez que em Cristo todos são iguais.
Isso não significa que o bom senso deva ser agora suprimido. Às vezes é conveniente que, pelo interesse de todos, "cada qual com seu igual" devido aos antecedentes históricos diferentes, diferentes interesses vocacionais, diferentes aptidões, diferentes escolaridades e diferentes localizações geográficas. A Bíblia reconhece esse direito. Não foi prejudicial que Bezalel e Aoliabe trabalhassem juntos com outras artesões de habilidade semelhante na construção do tabernáculo (Êx 36.1, 2, 8). Nem foi mau em si que Demétrio, "o ourives em prata", se juntasse a outros de seu ofício (Às 19h25). A Escritura claramente justifica distinções dessa natureza. Ela ensina não apenas a unidade, mas também a diversidade de todos os crentes, e, de certa forma, de todos os homens (17.26; 1Co 7.20; 12; 16.2; Ef 4.7). Não há pessoas hoje que, por sua mania de unidade e igualdade, tem deixado de lado o bom senso e o genuíno ensino da Escritura? Não é absurdo, por exemplo, que, no interesse da "integração", colocar a força na quarta série crianças de qualquer raça, que não pode fazer os estudos exigidos na quarta série? Não seria tolice para ministros, com pouco conhecimento de eletricidade, tentar introduzir-se num congresso de engenheiros eletrônicos? Ou para homens se inserem na reunião do Círculo das Amigas da Costura?
Por outro lado, há sempre um fato que permanece verdadeiro, ou seja, aos olhos de Deus todos os homens são iguais, "pois todos pecaram e carecem da glória de Deus" (Rm 3.23; cf. 2.11; 3.9-18; 5.12, 18). Também, "que o mesmo é o Senhor de todos, rico para todos os que o invocam" (Rm 10.12). Se um judeu se confessar cristão, e em seguida se recusar a comer com cristãos gentios, ou caso se considere, de alguma forma, superior a eles em dignidade moral, é algo que causa abominação ao Senhor. De forma semelhante, a Igreja de hoje não pode tolerar distinções nocivas. Todos os crentes são, de certa forma, uma pessoa, um corpo "em Cristo" (1Co 10.17; 12.12; Cl 3.15), pois ele, que é o Filho de Davi, é também o Filho do homem; ele, que é a "semente de Abraão", é também "a semente da mulher". O Espírito Santo, no que diz respeito a Deus, e a fé outorgada pelo Espírito, no que diz respeito ao homem, une todos os crentes a Cristo, e, em consequência, uns com os outros."
Para concluir cabe dizer que é justamente em função de nossa natureza pecadora que conseguimos distorcer facilmente qualquer equilíbrio dado por Deus. Estou certo de que uma mulher pode ser o que quer que ela seja, mas que também recai sobre ela, unicamente uma tarefa maravilhosa, que é a de gerar e dar a luz.
Ser mãe é um dom maravilhoso concebido por Deus às mulheres, e que nos homens fisiologicamente não podemos ter, e isso é perfeito, diante dos moldes que permeiam o modelo de família cristã.
O casal precisa ter a segurança de que o marido é um homem piedoso e temente a Deus para que a partir disso ela possa depositar nele a confiança de que ter um filho não é uma tarefa solitária, mas um compromisso dos dois.
A independência da mulher também está em não depender do favor de pessoas a sua volta para ajudar nos primeiros dias enquanto ela se recupera, mas na certeza de que tem um marido tão responsável ela quanto pelo filho que possui.
O casamento como testemunho público do amor e do compromisso de duas pessoas primeiro com Deus, depois um com o outro e por último diante demais pessoas, forneceu a segurança necessária para que o amor se desenvolva, e o lar subsista em harmonia, tendo a mulher submissa a um homem que a ama incondicionalmente e que por ela é incondicional dar a sua própria vida própria , parece estranho para nossa mente pós-moderna, mas é o que nos fala o texto de Efésios 5.22, 23, 24 e 25.
Claro, sempre serão dois pecadores debaixo do mesmo teto, mas quando o amor eros falhar ali estará o amor filéo entre um casal de amigos, e quando este amor falhar os dois se ampararão no amor Ágape que permanece o mesmo e não falha.
Augusto Marques
(1) https://escoladefilosofia.org/fam%C3%ADlia-a-chave-para-compreender-a-idade-m%C3%A9dia-na-europa-86833b23fb60
(2) Comentário do Novo Testamento — Gálatas © Editora Cultura Cristã de 1999. Publicado originalmente com o título Novo Testamento Comentário, Gálatas © 1968, William Hendriksen,
Lembro-me quando fazíamos gravatinhas na escola, tinha que recortar, pintar e levar para casa a fim de presentear nossos pais.
Neste período da minha vida, morava com meu avô e lembro que em todas as festividades relacionadas a pais e mães era pra ele que eu direcionava minhas homenagens.
Bem, eu sabia que meu avô não era meu pai, mas era tudo que eu tinha, e era perfeito, mas antes de falar sobre as qualidades do meu avô, cabe dizer que minha mãe tralhava em outra cidade, muito ficava sem tempo me ver e neste período da minha infância possuo bem mais registro que foi a minha vida ao lado do meu avô que com a minha mãe.
Meu pai, morreu antes de eu nascer, isso pode até parecer trágico em um primeiro momento, mas acredito que meu avô supriu majestosamente essa lacuna.
Ele era um homem extremamente trabalhador, arrumava fogões. Lembro-me das agulhas que ele usava para desentupir as bocas dos fogões, eu brincava com elas mesmo sendo advertido do perigo.
Meu avô não era dono de sua própria casa, era extremamente humilde e muitas vezes teve a energia elétrica cortada por falta de dinheiro para pagar, conta esta que em inúmeras situações era quitada pela minha mãe.
Contudo, não existe lembranças da falta de ter o que comer, pois ele sempre me supriu neste sentido, ainda que com a ajuda de alguns amigos e familiares.
Trabalhar e ser feliz pareciam as duas coisas que ele sabia fazer com melhor desenvoltura, ainda que eu tenha sido criado com certa liberdade (até demais para os padrões de hoje), lembro-me que as ruas quase que eram como uma extensão da minha casa, ok, sei que eram outros tempos.
Meu avô gostava de acordar cedo, muito cedo, por volta das 5 horas da manhã, me recordo das vezes que acompanhar ele nesse despertar matutino e ainda ser noite, e lá estava ele com seu chimarrão em mãos.
Essas coisas me foram fixadas desde a infância até meus 11 anos, quando ele morreu e a partir deste período pude conviver com outros homens, trabalhadores, desempresos, sérios, descompromissados e de certa forma, um pouco deles absorvi.
Tinha 12 anos quando fui morar com minha mãe e meu padrasto, lembro-me de uma mistura de sentimentos, tanto pela alegria de estar com meus irmãos como pela tristeza na vivência de problemas familiares bem chatos com relação à postura dos chefes da minha família. Contudo, um fator que eu chamava sempre muito atenção era a forma como levavam seus respectivos trabalhos a sério.
Não penso que devemos subestimar a capacidade de compreensão das crianças, aprendi observando muito e procurando fazer boas escolhas. Os exemplos maus e bons estão todos os dias diante de nós.
Hoje, casado a 10 anos, quando penso sobre meu futuro e em como eu devo me posicionar com relação a uma futura paternidade fico com as incertezas que não vivi ainda em minha vida.
Penso que realmente vai querer dar tudo para o meu filho(a), mas penso sobre as consequências que esta postura acarretará, uma vez que sou prova de que muitas vezes não ter bens, pode ser o fator preponderante para a busca daquilo que não tem.
Claro, que minha conversão ao cristianismo me fez rever muito dos meus conceitos sobre felicidade, amor e esperança, pois todas as lacunas que se comprometeram com pessoas e coisas foram tomadas pelo meu amor a Jesus Cristo.
Hoje posso afirmar com convicção que este, sem dúvidas, foi o grande salto na vida, na forma de ler o mundo usando os "óculos do evangelho".
Deus não me deu um pai em carne em osso para chamar de pai, mas me deu o seu filho para que através dele eu pudesse entender que o pai criador de todas as coisas, no fim das contas, sempre esteve comigo, cuidando para que nada me faltasse ou sobrasse.
Entendo que a medida de Deus para o cuidado comigo, foi na medida.
Espero que um dia, quando entender a paternidade, vivenciando-a, também poderia ter um pequeno vislumbre do que é esse perfeito amor no cuidado, um amor que de tudo em apenas medida e que nada nos deixa faltar, o amor de Deus por seus filhos.
Augusto Marques