(contém spoilers)
Laura Dern ganhou o Oscar de melhor atriz coadjuvante pelo filme História de um casamento. Confesso que gostei do filme, mas não curtiu muito a história, minha torcida era para que o casal junto na final. Assistimos eu e minha esposa e eu acho que ela teve a mesma percepção que eu.
O filme me prendeu eu, pois tem muitas qualidades, além das atuações excepcionais. A história triste de separação do casal do casal expõe a falta de sensibilidade dos advogados, que a minha ver é uma realidade também em terras tupiniquins.
Bem, mas a motivação para escrever este texto está em uma das falas da personagem Nora Fanshaw (interpretada por Laura Dern) advogada da Nicole Barber
(Scarlett Johansson) que em meio a uma reunião em função do processo judicial de separação diz:
"Não se aceitam mães que encham a cara, que gritam e chamam o filho de bundão. Eu entendo, também faço. Aceitamos um pai imperfeito. Vamos admitir: O conceito de bom pai foi inventado há uns 30 anos. Antes disso, esperava-se que fossem caladões, ausentes, irresponsáveis e egoístas. A gente diz que quer que eles mudem, mas bem lá no fundo, a gente os aceitas, nos os amamos por esses defeitos, mas as pessoas não aceitam esses defeitos em uma mãe, nem estruturalmente nem espiritualmente. Porque a base dessa nossa baboseira judaico-cristã é Maria, mãe de Jesus e ela e perfeita. Uma virgem que dá luz e apoia o filho incondicionalmente e o abraça quando ele morre. E o pai nem dá como caras. Ele mesmo comeu a mãe. Deus está no céu, Deus é o pai e nem Deus apareceu. Então você precisa ser perfeito. Charlie pode ser um, não importa. Você sempre será julgada um nível acima. E é muita, mas é assim que a banda toca
Na foto a atriz Laura Dern ganhadora do Oscar de melhor atriz coadjuvante. Filme história de um casamento.
O texto foi escrito por Noah Baumbach que, pelo que li, tem se tornado conhecido justamente por sua abordagem "realista" de contar histórias que permeiam o cotidiano novaiorquino.
Claro, aqui cabe o exercício de tentar imaginar o texto que citai, na perspectiva de uma advogada de meia idade, classe média alta, solteira, esclarecida e que vive no contexto sociocultural de uma cidade secularizada como Los Angeles. Por isso, meu convite é para que nos próximos parágrafos analisemos juntos esta fala.
"Não se aceitam mães que encham a cara, que gritam e chamam o filho de bundão."
Eu não preciso ir para Los Angeles para perceber que a primeira frase do texto já apresentava equívocos, pois tinha o exemplo em casa quando pequeno da minha mãe que não mídia para retardo e educar seus filhos, e até hoje ela curte tomar sua cerveja, claro que os exageros, mas nosso amor por ela é sem medidas, contudo , em uma sociedade sentimentalista, onde o país trata seus filhos como verdadeiros reis e rainhas essa primeira frase parece estar soando perfeito aos ouvidos de famílias pós-modernas. Sei do problema machista por trás desta fala, mas se você perguntar para qualquer homem qual a pessoa mais importante de sua vida, sendo ele machista ou não, certamente ele diga que é uma mulher, provavelmente sua esposa, namorada ou definitivamente a sua mãe.
"Eu entendo, também faço. Aceitamos um pai imperfeito. Vamos admitir: O conceito de bom pai foi inventado há uns 30 anos. Antes disso, esperava-se que fossem caladões, ausentes, irresponsáveis e egoístas."
Talvez um dos maiores benefícios do progressismo foi a "gurmertização" dos pais, antigamente os pais se encaixavam em grande parte desses rótulos, mas também possuíam tantas outras classificações que não foram. Pais ausentes em sua maioria tinham suas justificativas em função da responsabilidade com suas famílias, por que eles eram totalmente inclinados a suprir suas necessidades físicas e materiais, sem deixar que lhes faltasse nada. Ao passo que hoje continua vendo pais que da mesma forma são ausentes (salvo exceções), mas parecem ter piorado, pois agora também são desprovidos de responsabilidades para com suas esposas, namoradas e filhos, muito próximo do que Darrin Patrick chama de "Homenino", um fenômeno recente de homens frouxos, marmanjos que vivem jogando, videogame pornografia assistindo e se masturbando.
Mas cabe não apenas olhar 30 anos atrás, mas bem antes disso, quanto pais assumiam para si uma responsabilidade irrevogável de defender e proteger a sua família com unhas e dentes.
No artigo de André Lisboa no Medium (1), ele cita o livro "Luz sobre a idade média" de Régine Pernoud que fala sobre a necessidade de entender a família dentro do contexto da idade média para que se possa compreender este período da história, ele retoma como 3 substâncias que compõe uma família (pai, mãe e filho(a)) em uma época que a ex-igrejaercia influência forte sobre a sociedade :
O pai — O administrador da família — responsável pela transmissão de bens e afeição — era o pai. A sua autoridade não está firme nele em si, na chefia determinada pelo direito romano. Ele muito mais cumpre um dever — missão — do que exerce um direito. Sua função é proteger mulheres, crianças e servos e assegurar a continuidade do patrimônio. Todavia, o pai, como indivíduo, não é o proprietário, mas a família.
A mulher — Pernoud ressalta a posição feminina como colaboradora à administrar a casa e a educação dos filhos. Quando o homem se ausenta, é a mulher que passa a gestão dos bens sem necessidade de autorização. Se uma mulher morrer sem filhos, seus bens voltam para sua família de origem.
Os filhos — Tendo o pai como guardião, protetor e mestre, o filho submete-se à autoridade paterna até a maioridade (14, pebleus; 20, nobres). Após a maioridade, o jovem continua a ser protegido pela família e passa o direito de fundar o seu próprio núcleo familiar. Nada entrava a sua liberdade, pelo contrário torna-se senhor de si, diferente do que ocorria em Roma. Muitos deixam a casa para servir o reino.
Boa parte deste modelo resiste até hoje, ainda que em pequena escala, e tem sido feito pela atuação humanista de uma sociedade que está em rebelião contra Deus, agora, a humanidade quer estar no centro e assumir como rédeas de sua própria história, o problema (ao meu ver) é que não foi desta forma que chegamos até aqui, então porque que andar na falsa sensação de que sabe exatamente que devemos que fazer com o mundo? Formas hibridas de família surgem a cada dia e o casamento contemporâneo, em muitos lugares, já não é mais como era antigamente.
Há pouco tempo li uma matéria de alguém que se casou consigo mesmo, isso é o cúmulo do egocentrismo.
Estou certo que alguns movimentos sociais como feminismo em sua raiz tem respaldo até mesmo na bíblia, repare, não estou falando de feminismo da segunda onda ou da terceira onda que são distorções do que é o feminismo em sua essência. entender cabe que antes mesmo das mulheres gritarem por igualdade o apostolo Paulo já dizia em Gálatas 3.28 "Não há judeu nem grego, escravo ou livre, homem ou mulher; porque todos vós sois um em Cristo Jesus". Vamos entender essa passagem e seu contexto na próxima parte do diálogo proferido por Laura Dern no filme.
"A gente diz que quer que eles mudem, mas bem lá no fundo, a gente os aceitas, nos os amamos por esses defeitos, mas as pessoas não aceitam esses defeitos em uma mãe, nem estruturalmente nem espiritualmente. Porque a base dessa nossa baboseira judaico-cristã é Maria, mãe de Jesus e ela e perfeita. Uma virgem que dá luz e apoia o filho incondicionalmente e o abraça quando ele morre. E o pai nem dá como caras. Ele mesmo comeu a mãe. Deus está no céu, Deus é o pai e nem Deus apareceu. Então você precisa ser perfeito. Charlie pode ser um, não importa. Você sempre será julgada um nível acima. E é muita, mas é assim que a banda toca
Aqui está a parte que mais quero me debruçar compreender para o que de fato está por trás da fala deste personagem.
Não é meu pretensão resolver este problema, até mesmo porque sei das minhas limitações e compre que este texto alcançará (na melhor das hipóteses) 5 ou 6 pessoas que viram o filme e se interessaram por seu conteúdo.
Estou certo que a influência no modelo familiar convencional é judaico-cristão, mas não pode olhar para parte dos valores e da mecânica incutidos na família e ignorar o restante, pois parecerá sempre impossível, incongruente e capenga.
O que não é dito pelo personagem é que todos nós somos pecadores, neste sentido, todos nós postos em uma condição indigna diante de Deus, isso significa que ninguém é santo ou merecedor de algo alguma, mas Deus pela fé nos torna santificados perante Ele só pelo fato de crermos em Jesus Cristo (em suma).
Dentro da ideia de que virgindade é sinônimo de santidade cabe lembrar que até mesmo Maria, dita como santa (como se tivesse sido virgem a vida inteira), só tinha concebido a Jesus Cristo (o que é uma inverdade), não foi virgem por toda a sua vida, pois Jesus possuía irmãos, fato bíblico que José efetivamente transou com Maria, Jesus possuía irmãos (Marcos 6.3) e era tratado como primogênito (primeiro filho) conforme Lucas 2.7 e não como unigênito (filho único), e qual o problema disso? Ora, nenhum! Quando dizemos que Deus criou todas as coisas, também dizemos que ele criou o sexo e não é preciso ser nenhum teólogo para saber que isso é bom.
O que a fala também não diz, por sua falta de compreensão bíblica, é que aquele que Maria deu a luz não era um homem, mas sim o próprio Deus e isso muda tudo. Maria não estava apenas sofrendo por um filho que seria morto emjustamente, mas por um Deus que veio na carne e habitou entre nós, assumindo a forma de homem e servo, Jesus serviu a todos e foi o único homem perfeito a pisar na terra, a sua missão incompreendida passa por assumir para si os pecados de toda a humanidade e morrer humanidade sacrific-se por todos. O ponto aqui é que Jesus se não fosse santo como homem, sem pecado algum, talvez após a sua morte alguns diriam que a sua obra foi impressionante, mas ele também tinha lá suas falhas, nos o tornaríamos indigno facilmente ao recordarmos de algum defeito que ele poderia ter tido. A santidade de Jesus muda tudo, pois não há do que pode ser acusado, a sua perfeição e santidade nos expõem e nos confronta, pois a morte Dele foi por mim e por ti é justamente é pela fé nele que agora como pecadores imundos, podemos chegar novamente diante de um Deus que é santo, restabelecendo assim, nosso comunhão.
Ora, esse fundo teológico é de suma importância para compreender a distorção na fala do personagem, que obviamente dentro do contexto dela não tem qualquer responsabilidade com a bíblia exegese que é nada mais, nada menos, que a correta interpretação da bíblia.
Portanto, Deus não estava no céu como também estava diante de Maria o tempo todo.
Segundo William Hendriksen no seu comentário do livro de Gálatas (2) o texto que cita anteriormente (Gálatas 3.28) "O que Paulo está dizendo, pois, é que todas essas distinções — sejam raciais ou religiosas ("nem judeu, nem grego"), sociais ("nem escravo, nem livre"), ou sexuais ("nem homem, nem mulher") — devem ser completamente e sempre para erradicadas, uma vez que em Cristo todos são iguais.
Isso não significa que o bom senso deva ser agora suprimido. Às vezes é conveniente que, pelo interesse de todos, "cada qual com seu igual" devido aos antecedentes históricos diferentes, diferentes interesses vocacionais, diferentes aptidões, diferentes escolaridades e diferentes localizações geográficas. A Bíblia reconhece esse direito. Não foi prejudicial que Bezalel e Aoliabe trabalhassem juntos com outras artesões de habilidade semelhante na construção do tabernáculo (Êx 36.1, 2, 8). Nem foi mau em si que Demétrio, "o ourives em prata", se juntasse a outros de seu ofício (Às 19h25). A Escritura claramente justifica distinções dessa natureza. Ela ensina não apenas a unidade, mas também a diversidade de todos os crentes, e, de certa forma, de todos os homens (17.26; 1Co 7.20; 12; 16.2; Ef 4.7). Não há pessoas hoje que, por sua mania de unidade e igualdade, tem deixado de lado o bom senso e o genuíno ensino da Escritura? Não é absurdo, por exemplo, que, no interesse da "integração", colocar a força na quarta série crianças de qualquer raça, que não pode fazer os estudos exigidos na quarta série? Não seria tolice para ministros, com pouco conhecimento de eletricidade, tentar introduzir-se num congresso de engenheiros eletrônicos? Ou para homens se inserem na reunião do Círculo das Amigas da Costura?
Por outro lado, há sempre um fato que permanece verdadeiro, ou seja, aos olhos de Deus todos os homens são iguais, "pois todos pecaram e carecem da glória de Deus" (Rm 3.23; cf. 2.11; 3.9-18; 5.12, 18). Também, "que o mesmo é o Senhor de todos, rico para todos os que o invocam" (Rm 10.12). Se um judeu se confessar cristão, e em seguida se recusar a comer com cristãos gentios, ou caso se considere, de alguma forma, superior a eles em dignidade moral, é algo que causa abominação ao Senhor. De forma semelhante, a Igreja de hoje não pode tolerar distinções nocivas. Todos os crentes são, de certa forma, uma pessoa, um corpo "em Cristo" (1Co 10.17; 12.12; Cl 3.15), pois ele, que é o Filho de Davi, é também o Filho do homem; ele, que é a "semente de Abraão", é também "a semente da mulher". O Espírito Santo, no que diz respeito a Deus, e a fé outorgada pelo Espírito, no que diz respeito ao homem, une todos os crentes a Cristo, e, em consequência, uns com os outros."
Para concluir cabe dizer que é justamente em função de nossa natureza pecadora que conseguimos distorcer facilmente qualquer equilíbrio dado por Deus. Estou certo de que uma mulher pode ser o que quer que ela seja, mas que também recai sobre ela, unicamente uma tarefa maravilhosa, que é a de gerar e dar a luz.
Ser mãe é um dom maravilhoso concebido por Deus às mulheres, e que nos homens fisiologicamente não podemos ter, e isso é perfeito, diante dos moldes que permeiam o modelo de família cristã.
O casal precisa ter a segurança de que o marido é um homem piedoso e temente a Deus para que a partir disso ela possa depositar nele a confiança de que ter um filho não é uma tarefa solitária, mas um compromisso dos dois.
A independência da mulher também está em não depender do favor de pessoas a sua volta para ajudar nos primeiros dias enquanto ela se recupera, mas na certeza de que tem um marido tão responsável ela quanto pelo filho que possui.
O casamento como testemunho público do amor e do compromisso de duas pessoas primeiro com Deus, depois um com o outro e por último diante demais pessoas, forneceu a segurança necessária para que o amor se desenvolva, e o lar subsista em harmonia, tendo a mulher submissa a um homem que a ama incondicionalmente e que por ela é incondicional dar a sua própria vida própria , parece estranho para nossa mente pós-moderna, mas é o que nos fala o texto de Efésios 5.22, 23, 24 e 25.
Claro, sempre serão dois pecadores debaixo do mesmo teto, mas quando o amor eros falhar ali estará o amor filéo entre um casal de amigos, e quando este amor falhar os dois se ampararão no amor Ágape que permanece o mesmo e não falha.
Augusto Marques
(1)
https://escoladefilosofia.org/fam%C3%ADlia-a-chave-para-compreender-a-idade-m%C3%A9dia-na-europa-86833b23fb60(2) Comentário do Novo Testamento — Gálatas © Editora Cultura Cristã de 1999. Publicado originalmente com o título Novo Testamento Comentário, Gálatas © 1968, William Hendriksen,