“Se a glória celestial fosse aguardada somente por mim, eu não teria vos decepcionado. Eu vos teria dito que não há lugar para alguém senão para mim na casa de meu Pai. Mas o caso é muito diferente, pois eu vou antes para vos preparar lugar.” O contexto, em minha opinião, demanda que o leiamos desta forma, pois temos logo a seguir: Se eu for e vos preparar lugar. Com estas palavras Cristo notifica que o desígnio de sua partida é preparar um lugar para seus discípulos. Em uma palavra, Cristo não sobe ao céu de uma forma particular, para habitar ali sozinho, mas, antes, para que ele seja a herança comum de todos os santos e para que dessa forma a Cabeça pudesse estar unida a seus membros.
Surge, porém, uma pergunta: Qual era a condição dos pais após a morte, antes que Cristo viesse do céu? Pois a conclusão geralmente formulada é que as almas crentes ficaram encerradas em um estado ou prisão intermediária, porque Cristo diz que, com sua ascensão ao céu, o lugar será preparado. Mas a resposta é fácil. Lemos que esse lugar será preparado para o dia da ressurreição; pois inerentemente a humanidade se acha banida do reino de Deus; o Filho, porém, que é o único herdeiro do céu, tomou posse dele em nome deles, para que através dele nos seja permitido entrar; pois em sua pessoa já possuímos o céu pela esperança, como nos informa Paulo [Ef 1.3]. Não obstante não desfrutaremos dessa grande bênção até que ele venha do céu pela segunda vez. Portanto, a condição dos pais após a morte não é aqui distinta da nossa; porque Cristo já preparou um lugar para eles e para nós, no qual ele receberá a todos nós no último dia. Antes que a reconciliação fosse consumada, as almas crentes eram, por assim dizer, postas numa torre de vigia, aguardando a redenção prometida, e agora elas desfrutam de um bendito repouso até que a redenção seja consumada."
Fonte: Calvino, J. (2015). Evangelho Segundo João. (T. J. Santos Filho & P. C. Valle, Orgs., V. G. Martins, Trad.) (Primeira Edição, Vol. 2, p. 90). São José dos Campos, SP: Editora FIEL.
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Arte de @augustomarques_oficial
Fonte: Calvino, J. (2015). Evangelho Segundo João. (T. J. Santos Filho & P. C. Valle, Orgs., V. G. Martins, Trad.) (Primeira Edição, Vol. 2, p. 90). São José dos Campos, SP: Editora FIEL.
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