Surpreendidos por Deus

Oque te surpreende? O que tira o teu fôlego? Qual foi a última vez que você ficou boquiaberto com algo? Afinal, você já ficou maravilhado alguma vez na sua vida?

Talvez, este seja o grande mal da internet, o fato de termos perdido nossa capacidade de nos surpreendermos com coisas que antes (no mínimo) nos faziam pensar.

Ao meu ver, a internet é a grande responsável pela nossa anestesia sentimental, ainda que ela tenha um viés colaborativo e possibilite conectar pessoas, parece que não é bem isso que está acontecendo. Sei que este papo já não é mais novidade para ninguém, afinal ouvir sobre os malefícios da internet é tão comum quanto você ter uma conta em rede social.


Ivan Kramskoy’s 1872 Christ in the Wilderness


Ivan Kramskoy’s 1872 Christ in the Wilderness

Mas antes de desenvolver melhor, acho que vale a pena relatar um fato, quanto estava em uma aula sobre VR (virtual reality, realidade virtual) e RA (Augmented Reality, realidade aumentada) na Apple Developer Academy em Porto Alegre, onde nos foi passado um vídeo onde mostrava uma senhora de aproximadamente 50 anos em um shopping com um óculos adaptado para VR e ela fazia um escândalo, gritando e se jogando no chão, chamando a atenção de muitos que passavam ali. Para quem está familiarizado com a tecnologia o que mais chama atenção é a reação da pessoa, o impacto que a tecnologia causava nela, a ponto de dar até um pouco de inveja (risos).

Bem, segundo a empresa de consultoria We Are Social em seu relatório 2019, atualmente só no Brasil, passamos mais de 9horas conectados na internet, só o youtube retém 95% dos usuários de internet em nosso país, é muito tempo vendo vídeos dos mais diversos assuntos,o próprio youtube/imprensa dizendo que são mais de 1 bilhão de horas assistidas por dia contudo, penso que devemos parar para pensar um pouco sobre o que está acontecendo em nossa sociedade.

Graças a tecnologia temos acesso a tudo, podemos viajar para qualquer lugar do mundo, andar pelas ruas de Nova Delhi na India e em menos de um minuto estar em frente ao Coliseu em Roma. Podemos pesquisar pelos vídeos mais incríveis do mundo no youtube e espantarmos a monotonia, quem sabe uma palestra em um TEDtalks ou um filme que ainda está no cinema enfim, a tecnologia está a disposição para quem quiser usar.

Existe um provérbio Árabe que diz: “A árvore quando está sendo cortada, observa com tristeza que o cabo do machado é de madeira.” Ele serve para ilustrar o que a tecnologia esta fazendo conosco, criamos a internet para resolver problemas e de fato conseguimos fazer boas coisas com ela, mas estamos nos destruindo também, somos uma geração que tem dificuldades de amar, perdoar e correr riscos.

Antigamente subíamos no telhado de casa para brincar, tomávamos banho de açude e jogávamos bola na rua e hoje damos views para quem está fazendo estas coisas. Crianças gostam de ver outras crianças com seus brinquedos caros se divertirem no youtube.

É como se nos sentíssemos parcialmente realizados vendo unboxes de produtos, como se a experiência e a felicidade de outra pessoa bastassem para nós, ainda que estejamos mais individualistas do que jamais fomos.

Até mesmo quando vamos na igreja, as músicas já não falam mais de Cristo, já não apontam para a Glória de Deus e nas pregações o homem é o centro, a temática e o alvo a ser alcançado. Reflexo da internet? Sim, também!

Na internet se popularizou o On Demand que seria algo como “por demanda”, empresas como Netflix, Disney, Globo, Fox entre outras criaram plataformas para atender as pessoas quando elas quiserem, da forma que elas quiserem e principalmente quando ela quiser. Até mesmo o rádio, uma velha forma de mídia sofreu mudanças devido a internet, tendo que se adaptar ao On Demand que o PodCast veio para substituir.

A relação de todas estas coisas com a igreja é muito simples, a mensagem teve que sofrer uma adaptação cruel para poder atender a demanda de pessoas que gostam de ouvir boas histórias sendo contadas.

Não é difícil vermos hoje mensagens como “7 passos para conseguir”, ou até mesmo terríveis adaptações bíblicas onde Davi é você e Golias o seu “maior problema”.

Nos não nos surpreendemos mais como antes, parecemos estar anestesiados e a cada novidade existe um esforço enorme para causar em nós um frescor de inovação.

As vezes me pergunto se não estamos batendo no teto em matéria de criatividade, enquanto a Bíblia nos diz em Eclesiastes 1.9 “O que foi tornará a ser, o que foi feito se fará novamente; não há nada novo debaixo do sol” em um texto que só não é mais velho que a terra.

Ainda sobre Realidade virtual em 1962 já existiam experimentos sobre o assunto.

O problema é que ao lermos os evangelhos, relatos de fatos como Jesus andando sobre as águas, qual o sentimento que temos diante disso? Certamente o impacto da primeira leitura que fizemos é muito maior do que quando lemos pela décima vez, quando vemos filmes, animações e desenhos ilustrando essa passagem, nos surpreendemos com isso tudo.

Não podemos perder a nossa capacidade de nos surpreender com as coisas de Deus, como que ele criou, com o que ele fez e relatou nas suas escrituras, com o que ele está fazendo hoje na igreja e com a realização do que ele fará através de nós.

O que é a pergunta 107 do Catecismo de Westminster?

Acho que vale pensar sobre a preocupação de seus redatores em não incentivar a criação de imagens de Deus, Jesus e do Espírito Santo.

Parece que de fato, coisas espirituais perdem parte de sua transcendência quando enquadramos ou as colocamos em algum lugar. O que João viu em Apocalipse e pôde descrever com figuras terrenas jamais poderá se comparar com a glória do por vir.

Não tenho dúvidas de que ficaremos boquiabertos com a Glória de Deus no dia em que o vermos face a face, certamente não haverá tecnologia mais surpreendente que se compare ao que virá, a ponto de “todo joelho se dobrar” perante Deus.

Muitas vezes a nossa incredulidade quer caminhar de mãos dadas com as glórias desta terra, enquanto tudo o que é feito pela mão do homem tiver o propósito de ser visto, consumido e depois descartado, jamais a glória será eterna, mas quando nossas obras passarem a serem feitas com as mãos limpas visando o Reino de Deus, ainda que a traça e a ferrugem possam deteriorar certamente juntaremos tesouros no céu.

Que o amor, a paz e a alegria de Jesus Cristo, seja nosso alvo em tudo que fizermos, para honra e Gloria do seu nome.

Augusto Marques

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