Sobre a música gospel reformada

É possível que uma das razões pela qual não existam tantos artistas de música gospel no meio reformado se dê pelo fato de que nestas igrejas existe uma observância pela liturgia do culto.
Mais comumente nas igrejas pentecostais e neopentecostais os púlpitos são como palcos e você pode fazer turnê pelo Brasil todo nas igrejas, é claro que o culto normalmente vira evento nestes casos.
Esta sempre foi uma dificuldade dos músicos na igreja, ou o culto vira show (apresentação) ou o show vira culto.
Me parece que isso nunca ficou muito claro para os artistas dentro da cristandade.
Como cristãos queremos consumir boa música, mas para isso necessitamos de bons músicos compositores e intérpretes que se dediquem a música e possam viver disso, pois como qualquer coisa na vida a música também exige dedicação (e muita).
Desenho de uma guitarra

O fato de haver uma facilidade maior de penetração e liberdade no ambiente de c
ulto, foi que a música floresceu infinitamente mais no meio pentecostal e neopentecostal.
A produção musical reformada aqui no Brasil é quase irrelevante se comparado aos pentecostais e neopentecostais.
Existem exceções excelentes como Projeto Sola e Stênio Marcius e deu. Se listarmos aqui o número de bandas e cantores gospel este post não teria fim.
Como disse anteriormente, músicos bons precisam se dedicar à música, e para se manter recendendo pelo seu trabalho você precisa de um público que fomente e consuma a sua música, neste sentido o meio neo e pentecostal é literalmente mais aquecido (piada ruim).
Outro ponto a se observar está no poder da liturgia, que molda nossas afeições. É comum na boca de pentecostais e neo pentecostais jargões e frases isoladas de textos bíblicos aplicados fora de contexto. Isso também ocorre em função da capacidade pedagógica que a música possui.
Não foram uma ou duas vezes em que pude ver e ouvir irmãos repetindo frases bíblicas de músicas que estavam na moda, e eu também sou cúmplice disso.
Não fosse assim, professores universitários não criariam jingles para auxiliar na decoreba de fórmulas matemáticas.
Durante muito tempo igrejas deixaram músicos e cantores subirem em seus púlpitos para conduzir a igreja.
A carência de músicos nas igrejas oportunizava o crescimento e desenvolvimento de habilidades artísticas por parte dos músicos, alguns notoriamente conhecidos e outros ilustres desconhecidos dos quais sabemos da existência e que também me incluo, penso eu.
Inúmeras vezes o "ministro de louvor" retroalimentado pelo movimento gospel, fazia a sua forçação de barra interminável, mostrava sua técnica apurada com melismas (yeh yeh, senhôah) com ministrações pedantes que tinham por objetivo de repetir o “mover” que viam nos DVD’s de shows de grandes artistas, e assim tornavam muitas vezes o momento do louvor algo constrangedor.
Essa bizarrice que não se vê comumente em igrejas reformadas.
Por mais que o entretenimento possa arrepiar e esses sentimentos carnais difíceis de discernir, muitas vezes são colocados na conta do Espírito Santo como um “toque” ou “presença”, penso que está na maturidade e convicção da igreja adotar uma postura de sinceridade, temor e reverência diante de Deus. Por mais sem graça que possa parecer no início, ao compreendermos que o canto congregacional bíblico é vital para pedagogia e unidade da igreja, veremos que abrir mão do “chamariz” do show/apresentação nos moldes do gospel é a melhor decisão a médio e longo prazo.
Eu (para a glória de Deus) possuo mais de 100 composições autorais, muitas delas apenas os irmãos da minha congregação conhece, sou constantemente perguntado sobre gravar um CD ou divulgar estas canções, coisas que pretendo sim fazer futuramente.

No entanto, estou cada vez mais convicto que registrar estas canções serão como uma humilde contribuição ao multiforme reino de Deus, sem a pretensão de ficar rico, famoso ou influente. Gosto da canção "é proibido pensar" do excelente João Alexandre, pois concordo, "não consigo me encaixar nesses esquema".

Augusto Marques

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